A clássica travessia Petrópolis x Teresópolis, carinhosamente apelidada de: "Petrô-Terê", é possivelmente a caminhada mais conhecida do país. Durante essa travessia cruzaremos um dos mais bonitos parques nacionais brasileiros com direito a encontrar montanhas escarpadas, visuais a perder de vista, campos de altitude, frio, cachoeiras e uma porção bem protegida de nossa Mata Atlântica. Enfrentaremos, portanto, uma caminhada pesada, íngreme, com alguns movimentos de escalada, exposição em algumas partes, inúmeros costões de pedra e a possibilidade de encontrar muita neblina pelo caminho. Se perder? É quase uma constante, mas nem por isso o caminho deixa de valer a pena. São 36 quilômetros da mais pura e tradicional travessia do Brasil.
Vencer esta caminhada que separa as cidades serranas de Petrópolis e Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, não é fácil nem para o mais experiente dos excursionistas. Atravessa-se cerca de oito vales, com subidas e descidas acentuadas, que exigem um bom preparo. Como se não bastasse, a mochila deverá estar pesada e o desnível a se vencer é grande, mas o visual e o contato com a natureza é reconfortante e compensador. Nessa travessia é importante que os caminhantes possuam um bom conhecimento sobre navegação e cartas topográficas já que em muitas partes o acesso se dá sobre maciços rochosos onde é quase impossível visualizar qualquer vestígio de trilha demarcada, a não ser alguns marcos de pedras empilhadas colocadas por outros excursionistas para sinalizar o trajeto. A melhor época do ano para realizá-la é de final de abril até agosto, quando as chuvas são menos freqüentes, mas o frio é rigoroso.
Normalmente a travessia Petrópolis x Teresópolis é realizada em dois ou três dias. Quando é realizada em um único dia, costuma-se percorrer os quilômetros finais da trilha quando já escureceu o que requer a utilização de uma boa lanterna.
A travessia é claramente dividida em três partes:
1. Bonfim - Morro Açu;
2. Castelos do Açu - Pedra do Sino e
3. Pedra do Sino - Barragem.
A primeira parte dessa caminhada é mais desgastante de todas, pois a subida do bairro do Bonfim até os castelos do Açu é dificultada pela inclinação acentuada do terreno. Um bom lugar para se recuperar o fôlego neste trajeto é a Pedra do Queijo, onde a maioria dos excursionistas chegam ofegantes e param para tirar fotos e fazer um lanche reforçado.
A segunda parte é a de mais difícil navegação; começando nos Castelos do Açu e terminando na Pedra do Sino, nesta parte o tempo bom e aberto é de vital importância para a navegação visual e o auxílio de uma pequena carta topográfica e uma bússola também ajudam. Nesta parte pode-se observar o visual alucinante da Pedra do Sino e do Garrafão onde esta localizada a via "big wall" mais difícil do Brasil, a "Terra de Gigantes".
A terceira parte é a mais fácil e menos cansativa, mas não menos bonita, ela começa no alto da Pedra do Sino, passando pelo abrigo 4, seguindo pelo interminável ziguezague no meio da Mata Atlântica. O final é em um local conhecido como Barragem do Rio Beija Flôr.
Altitude Máxima: 2.275 m (Pedra do Sino)* .
Nível: Caminhada Pesada.
Duração: 1 a 3 dias.
Carta Topográfica: Itaipava e Petrópolis.
Atração: Paisagem.
* A altitude da Pedra do Sino foi atualizada pelo Projeto Pontos Culminantes do Brasil, que nasceu de um acordo de parceria científica entre o IBGE e o Instituto Militar de Engenharia (IME), na maioria dos lugares ainda estão informando erradamente a altitude antiga que é de 2.623 metros.
Primeira Parte:
A trilha da travessia começa logo após a portaria do parque no bairro do Bonfim em Petrópolis, que fica um pouco depois das pousadas Paraíso Açu e Cabanas do Açu. Após a identificação e o pagamento da taxa na portaria do parque siga pela trilha claramente demarcada, sempre margeado o rio Bonfim pela esquerda. Com poucos minutos de caminhada chegaremos em uma bifurcação, onde o caminho da esquerda segue para o bonito e bem freqüentado poço Paraíso e o da direita segue para a Cachoeira Véu da Noiva e também para o Morro Açu.
Seguindo pela direita a trilha começa a subir um pouco onde vamos começar a ter os primeiros belos visuais dessa travessia. Com aproximadamente 40 minutos a 1 hora de caminhada desde da portaria chega-se a uma bifurcação caracterizada por uma clareira com uma pedra entre a trilha que vai para o Véu da Noiva (esquerda) e a trilha que sobe em direção ao Morro Açu (direita). Até aqui a vegetação da trilha alternou entre pequenos trechos de mata atlântica e descampados com muito capim gordura, sendo que em alguns pontos a trilha aparece bastante erodida, o que reforça o não uso e muito menos a abertura de atalhos. Nesse primeiro trecho de trilha seguiu paralelamente o rio Bonfim a sua esquerda e bem na metade deste trecho a trilha cruza um pequeno rio onde se pode pegar água pura. Bem próximo da portaria existe um pequeno canal que desvia água do rio Bonfim para irrigação, mas esta não é aconselhável para se beber.
Entrando a direita, seguindo em direção ao Morro Açu, começa uma subida em ziguezague bastante íngreme e descampada que é marcada também pelo capim gordura. Essa subida é conhecida por "Subida do Queijo". O Queijo é uma grande pedra que é normalmente usada como parada obrigatória para um merecido descanso e também para apreciar um bela visual de seu mirante: de um lado podemos admirar o Pico da Glória e o Morro do Alicate bem de perto, além de algumas altas montanhas do próprio parque, do outro o lindo Vale do Bonfim com destaque para a Pedra do Cone. Normalmente essa subida até o Queijo é vencida com 30 minutos de caminhada. Depois do Queijo a trilha continua subindo até o alto de um morrote e em seguida a trilha começa a descer um pouco até o Morro das Samambaias, que é marcada pela única árvore em seu cume. Aproveite para relaxar na descida.
Visual da Subida do Queijo
A continuação da trilha leva à nascente do Ájax, um ponto de para obrigatória para a coleta de água. Encha o cantil e, se tiver vontade, coma alguma coisa energética. O local é marcado por uma grande pedra e uma área plana um pouco acima excelente para acampamentos. Do queijo até o Ájax, mais ou menos 30 min.
Do Ájax siga pela subida conhecida como "subida da Isabeloca". No início do chapadão do Açu, existe a pedra da Isabeloca que, segundo conta-se, que a Princesa Isabel costumava caçar Capivaras nessa região, e quando os escravos a viam, comentavam entre eles: "Lá vem a Isabeloca!", se é verdade eu não posso afirmar, essa subida leva cerca de 30 à 40 minutos para ser vencida.
Chegando ao chapadão do Açu a trilha segue para a esquerda e é caracterizada pela presença de marcos feitos com pilhas de pedras e setas desenhadas no chão, do início do chapadão até os Castelos do Açu são mais 45 minutos à 1h 30 minutos. Essas marcações são importantes na orientação porque a caminhada passa a ser feita em trechos de rocha nua alternados por vegetação de altitude. A região é costumeiramente dominada por densos nevoeiros que escondem os marcos com facilidade. Para quem desconhece a região e se orienta apenas por relatos é a primeira área onde é possível se perder.
Ao chegar nos Castelos do Açu você logo identificará as formações rochosas que deram origem ao nome deste lugar, em cima dos castelos existe um mirante com um cabo de aço onde normalmente os aventureiros se reúnem para observar o nascer do sol. O sol nasce bem na direção de outros importantes picos do parque, como o Dedo de Deus, Pedra do Sino, entre outros... é um visual maravilhoso. Nesse ponto também podemos aprecisar uma vista inacreditável da Baía de Guanabara e das outras cidades que cercam o parque, com tempo bom é possível avistar até vários picos da cidade do Rio de Janeiro e de Niterói, dentre eles podemos destacar o Pão de Açucar, o Corcovado e a Pedra da Gávea. Um pouco mais a frente dos Castelos encontramos o Morro Açu que é o ponto culminante dessa área do parque onde existe uma cruz que é uma homenagem a um grupo de montanhistas mortos em uma tempestade elétrica no ano de 1992, e é deste ponto onde normalmente admiramos o pôr do sol.
Existe uma nascente de água que fica bem perto do abrigo feito de pedra sobre os Castelos do Açu. Para encontrar água, basta descer a laje de pedra, entretanto, ela provavelmente está contaminada e não vale a pena arriscar, um pouco mais a frente dessa fonte existe uma área de acampamento que fica numa espécie de descampado perto de onde foi construído um abrigo de madeira, um pouco mais a frente encontramos a outra fonte de água que é um pouco melhor do que a primeira, mas mesmo assim aconselho a tratar a água antes de consumi-la. Se o abrigo estiver aberto uma melhor ideia é pedir permissão para encher o cantil na cozinha do abrigo.
Segunda Parte:
No Açu vá em direção onde pessoal pega água, perto dos Castelos, pule o riozinho, que você vai chegar agora num campo enorme onde o pessoal costuma montar barracas. Siga subindo ao morro e dirija-se para a direita do mesmo, sempre procurando um caminho bem batido. Neste ponto depois da área de acampamento é um pouco mais difícil de achar o caminho. Seguindo a direita e vendo o morro seguinte à frente (o Morro do Marco), desça por lajes de pedra sempre seguindo os montinhos de pedra ou marcos.
No fundo do vale comece a subir o Morro do Marco sempre pelo caminho da direita. Ignore os da esquerda. Há pequenos lances de pedra, mas nenhum fim do mundo. Talvez um pouco chato para quem estiver carregando mochila pesada. No topo do Morro do Marco, aqui já se, olhe para a pedra do Sino, vá até a parte final direita do cume ou crista que você verá a descida, agora olhando para a pedra do Sino. Não desça mais para a direita que você vai acabar chegando nos portais de Hércules e a Coroa do Frade. Não há saída. Olhando para a Pedra do Sino você verá um morro à frente que é o Morro da Luva, este é mais alto que o Morro do Marco, mas antes há um morrote pequenininho que você também tem que superar.
Olhando para o Sino do topo do morro do Marco, desça pela pedra para a direita um pouco e você vera o caminho batido no chão cheio de matacões, e vá em direção uma laje de pedra com marco. Quase no final da laje de pedra você vai encontrar a esquerda a descida, sinalizada com marco. Esta descida vai indo para esquerda e bruscamente vira para a direita (atenção porque tem gente que continua para a esquerda e vai dar no maior Capim de Anta alto) para uma laje de pedra que parece que não tem fundo e tem uma pequena passagem para a esquerda que dar para andar. A direita dessa laje já tem que fazer um pequeno lance na pedra.
Continue descendo e vá a direita encostando na pedra que vai encontrar meio fechado pelo capim de anta, esse caminho vai para a esquerda e vai para o fundo do vale. Passe perto de uma árvore uma poça d'água e suba um morrote, que depois vai para esquerda descendo no fundo do Vale da Luva. Vá até o rio e pegue água. Passe o rio que verá subindo o caminho para o topo do Vale da Luva. Aqui tente sempre pegar o caminho da esquerda até você conseguir quase no topo ver o Açu, e umas pedras quase no topo. Aqui pegue para a direita, e se você achar terá uma passarela que vai conduzir ao topo do Morro da Luva.
Em frente ao topo do Morro da Luva haverá uns marcos, e é por lá o caminho para o fundo do vale, pegando primeiro o caminho para direita e depois seguindo reto. No fundo do vale ao passar uma poça d'água com uma pedra em frente (suba na pedra para evitar a água) tome novamente o caminho da direita e vá em direção a umas lajes de pedra com um riacho. Pule o riacho entre no mar do capim de anta e tire uma diagonal para a direita, na direção do Dedo de Deus, e de umas lajes de pedra. Nessas lajes já existem marcos que vão sinalizar para andar mais para a esquerda, mais para perto do rio lá embaixo. Agora abandone o rio e desça uma laje de pedra com grande inclinação para a direita, seguindo os marcos. Logo após descer o primeiro lance dessa laje existe uma passagem para a esquerda cruzando o rio, passando para o capim de anta. Atenção!!! Não desça esta laje em hipótese nenhuma até o final! Da num grotão de rio escorregadio.
Desça para o capim de Anta, depois pegue a esquerda numa região com muitos buracos que parecem não ter fundo, e vá pulando para logo depois começar a subir um morro enlameado conhecido como cabeça de dinossauro.
Do topo deste morro pegue a esquerda sem subir muito uma laje de pedra. Contorne o topo do morro pela frente por outra laje de pedra escorregadia, e continue andando para esquerda, as vezes subindo um pouco, até encontrar os marcos que sinalizam uma descida numa laje de pedra. No fim da descida desta laje de pedra pegue novamente o capim de anta. Primeiro rume para direita em direção a lajes de pedra e depois para a esquerda na direção de outro morrinho. Agora você esta sobre o vale das Antas. Este é um ponto que o pessoal costuma errar. Muita atenção!!! Neste morro tem marcos para todos os lados!!!
Primeiro desça para a esquerda pelas lajes de pedras, e depois quase no final da laje onde parece que vai chegando a um abismo vá pegando novamente para a esquerda que no final da laje de pedra tem o caminho no capim de anta que dá para o fundo do vale. Neste caminho de mato pegue sempre o da esquerda. Esse ponto é muito fácil de se perder. Tenha em mente que se estiver perdido vá para a esquerda que é menos perigoso, e que no certamente na esquerda haverá outro caminho secundário para o fundo do vale.
O fundo do vale é chamado Vale das Antas. Aqui também tem uma infinidade de caminhos. O que costumo usar é sem duvida o melhor. No local que se acampa atravesse o rio, e pegue o caminho para a esquerda. Suba no primeiro caminho, e pegue novamente a segunda à esquerda. Continue subindo, e num entroncamento pegue o caminho da direita que vai dar num charco e num outro riacho que você pula. Suba o riacho e daí para frente pegue sempre o caminho da esquerda até uma laje de pedra chamada pedra da Baleia. Olha, se você está perdido pegue o caminho mais aberto que deve sair.
Depois da Pedra da Baleia continue subindo sempre pela crista que você vai passar por outra laje de pedra. No topo do morrinho pegue primeiro o caminho da direita em direção ao Garrafão e depois pegue para a esquerda para outras lajes de pedra indo sempre em direção a Pedra do Sino. Agora o caminho vai dar no local chamado Vale dos 7 ecos, ou Vale das Letrinhas (tem nomes escritos com pedrinhas, quartzos). Grite que aparecerá 7 ecos. Agora você esta na base da Pedra do Sino. Vá para esquerda e depois desça um lance a direita. Verifique onde esta pisado. Ai tem um pequeno lance de 2 metros de escapadinha.
No fundo do vale pegue a esquerda e comece a subir para o Sino. Agora só faltam uns 15 minutos! Logo no inicio da subida tem o lance do cavalinho. Uma pedra vertical que você pega o topo, vai à esquerda dela e pula como se fosse montar num cavalo. Depois disso tem uns outros pequenos lances em pedra, veja a direita da pedra para achar protuberâncias, e depois uma escada coloca por Endre de Gyalokay. Ele carregou e montou aquela escada sozinho, ele precisou de ir duas vezes para concluir esse trabalho. Na primeira carregou somente a escada, e na ultima fez a fundação para a escada.
Depois você chega na base do Sino e para subi-lo existe um caminho a direita. Desse ponto, o caminho até o Sino não exige mais de 10 minutos de caminhada sobre pedra.
A Pedra do Sino, com 2.275 m * de altitude, é o ponto culminante de toda Serra dos Órgãos. Retornando-se à trilha principal, chega-se rapidamente ao Abrigo 4.
Terceira Parte:
Bem próximo ao cume da Pedra do Sino, inicia-se o último trecho da travessia, que se constitui de percurso em trilha aberta e bem demarcada, de aproximadamente 12 km de extensão. Esse último segmento é concluído em aproximadamente três horas, dependendo do ritmo e das paradas que se efetuar. Trata-se também, do trecho de menor dificuldade para a caminhada, com declividade amenizada pelo traçado da trilha, que segue as curvas de nível do terreno.
É importante destacar que esse trecho é muito utilizado, principalmente por quem faz a caminhada da Barragem até a Pedra do Sino (Abrigo 4), podendo-se observar que a trilha não está recebendo uma manutenção adequada e que o comportamento de alguns pseudo-montanhistas tem contribuído muito para a degradação do local. Portanto, faça a sua parte e NÃO UTILIZE os inúmeros ATALHOS que existem.
Normalmente a travessia Petrópolis-Teresópolis é realizada em dois ou três dias. Quando é realizada em um único dia, costuma-se percorrer os quilômetros finais quando já escureceu, o que requer a utilização de uma boa lanterna e exige máxima atenção por parte do montanhista para evitar acidentes (existem muitas pedras soltas no trecho final da trilha).
A Travessia Petrópolis - Teresópolis cruza os domínios dos municípios de Petrópolis, Guapimirim, Magé e Teresópolis. Esses quatro municípios pertencem a região serrana estado do Rio de Janeiro.
Uma boa caminha para todos. Deus abençoe...